O velocímetro do veículo da foto acima não bateu necessariamente a quase 180 km/h; pode ter sido mais. Ou muito menos
Diante de acidentes graves, é comum que sites e jornais destaquem a posição em que o ponteiro do velocímetro parou. Mas será que ela indica a velocidade em que o carro estava no momento da colisão? Autoesporte até gostaria de simular um choque para provar. Mas sem dummies ou automóveis disponíveis, recorreu a especialistas no assunto.
Com 33 anos de experiência na área, Raphael Martello, perito em acidentes de trânsito, garante que a indicação não é verdadeira. “A simples constatação da posição de imobilidade do ponteiro do velocímetro não pode ser considerada comprovação da velocidade. Em um acidente os componentes se deslocam e a própria inércia pode fazer com que o mecanismo do ponteiro se movimente, pois a desaceleração é muito forte”, afirma.
Segundo Martello, na maioria das vezes se observa uma absoluta disparidade entre a velocidade real e aquela que fica marcada. “Sempre que veem a gravidade do acidente, as pessoas imaginam uma velocidade muito superior. No caso da Lady Di, por exemplo, falavam em mais de 200 km/h. Mas o choque foi a 93 km/h, segundo cálculos que consideraram a deformação do veículo”, diz.
O mito também é questionado por Iaran Gadotti, gerente de engenharia de desenvolvimento da Continental. Especializado na área de painéis de instrumentos, ele afirma que no projeto de um velocímetro não é incluído nenhum dispositivo capaz de travar o ponteiro na velocidade em que ocorre um acidente. “Além disso, a marcação da velocidade vem do movimento das rodas. Se elas girarem no ar por algum motivo, a indicação será superior à real. Já se o motorista frear bruscamente e as rodas travarem, o ponteiro pode ir a 0 km/h, mas o carro continuará em movimento. Dos dois jeitos, a informação será comprometida”, diz. Se o acidente for grave e afetar fortemente a área frontal, rompendo fios, o painel deixará de funcionar por falta de alimentação da bateria, e aí o ponteiro poderá parar em qualquer ponto da escala.
É possível registrar a velocidade exata no instante do acidente, por um sensor do sistema de airbags. Mas, para isso, seria preciso transmitir esse dado ao painel. “E hoje não há essa solicitação”, diz Gadotti.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário